O que é ser pai? Quando se descobre a paternidade? E como podemos construí-la para promover melhores relações entre pais e filhos? Os tempos mudaram, e se antes ser pai era sinônimo só de diversão, ter parceria para jogar bola ou videogame, hoje, muitos deles estão mais envolvidos e dispostos a participarem de todas as etapas da criação dos filhos em uma divisão igual de responsabilidade. Por não serem cobrados nesse papel ao longo da história, os homens têm menos referências positivas para a paternidade, e a paternidade ativa é uma luta, um exercício diário, que se constrói aos poucos.

Em clima de Dia dos Pais, conversamos com alguns pais para saber como eles veem essas questões. Confira os depoimentos a seguir:

“Penso que o exercício de descoberta e deslumbramento com o mundo é uma constante. A criação de um outro ser que, ali, aconchegado entre seus braços, cheio de fragilidades e com uma confiança desmedida em seu protetor (aquele mesmo que a embala no sono), talvez neste momento, essa carga de emoção, alegria e medo sem fim que te devora de uma só vez me tenha feito não descobrir minha paternidade, mas pensar em construí-la da melhor forma que eu pudesse. Vinte e nove anos depois desta primeira fagulha de sentimento que habitou em mim, me sinto ainda construindo essa paternidade, mas com a sorte de ser ajudado pelas minhas próprias filhas e esposa, que me permitem ser (ou absurdamente procurar ser) uma pai melhor, a cada dia.”

Alexandre Rampazo, pai da Gabriela, de 29 anos, e da Giulia, de 24.

“Não fui capaz, como acontece em geral com os homens (creio), de antecipar a paternidade. Isso soava estranho para minha mulher. Rolava uma certa frustração. Dela com relação à minha falta de entusiasmo sobre o assunto. Minha, com relação à frustração dela. Decidimos, numa certa altura, de comum acordo. Tivemos a Jasmim, que nasceu de olhos bem abertos. Quando a segurei no colo na maternidade tive o desejo de não largá-la mais. Por mais que tenha acompanhado de perto a gravidez da minha companheira, e estivesse me preparando, você jamais está preparado para sentir naquele momento. E a cena se repetiu, quando Flora chegou.

Paternidade é um misto de tudo. De desapego, de compromisso, de arrebatamento, de preocupação, de amor, de circularidade e descoberta.
No nosso cotidiano são elas que me ensinam o que é paternidade.”

Mauricio Negro, pai de Flora, de 4 anos, e de Jasmim, de 8.

“A partir do momento em que minha parceira e eu decidimos ter uma criança, minha mente começou a mudar. Ali já comecei a pensar de forma diferente. Mas houve dois momentos marcantes pra mim, em que percebi que me conectei de forma quase mágica com meu filho. O primeiro foi quando escutei pela primeira vez seu batimento cardíaco. O som foi a materialização daquilo que era até então, para mim, uma ideia. O segundo, o mais mágico e sublime, quando o embalei assim que ele saiu do ventre da mãe.

A paternidade é um aprendizado diário. Tive que aprender, por exemplo, a ler e escutar mensagens que estão escondidas em pequenos gestos. Sigo aprendendo.”

Renato Moriconi, pai do João, de 3 anos.

“O momento em que descobri minha paternidade, de fato, foi quando peguei meu filho no colo pela primeira vez. Ele nasceu em casa e eu nunca ia imaginar que seria a primeira pessoa a segurá-lo nos braços. Tudo porque eu estava no lugar certo, na hora certa. Foi ali que a ficha caiu de que tinha um pequeno ser completamente dependente de mim, e que eu queria enchê-lo de amor e construir algo completamente diferente de tudo que tinha como referência, seja na criação, seja na relação entre pai e filho. 

Construo a paternidade todos os dias. Ela precisa ser construída diariamente, a cada vez que você coloca seu filho para dormir, que você escova os dentes do seu filho, que coloca o uniforme, dá um abraço quando ele se machuca. É cansativo pra caramba, mas é uma das coisas mais recompensadoras que eu já vivi na minha vida inteira. A paternidade não vem por si só, porque você é pai de alguém, não é algo que existe de bate-pronto, é um trabalho ativo que você constrói ali presente, não só disponível fisicamente mas também emocionalmente para o seu filho, construindo e fortalecendo aquele vínculo pouco a pouco.”

Thiago Queiroz, do blog Paizinho Vírgula, pai do Dante, de 6 anos, do Gael, de 4, e da Maya, de 8 meses. 


Imagem de capa retirada do livro Meu pai era um cara legal de Keith Negley.

Assine o Clube Quindim

APROVEITE ESTE MOMENTO PARA INCENTIVAR A LEITURA!