Quantas vezes a ideia do corpo perfeito apareceu para você esta semana? Sempre presente na mídia, nas redes sociais e entre os comentários das amigas, é uma pressão que vive sobre as cabeças das mulheres. Um modelo físico que deve ser seguido para que você seja mais feliz e completa. Mas, diante de tanta pressão por esse modelo ideal, como ter uma boa autoestima? Como aceitar e amar o corpo único e cheio de especificidades que cada uma de nós têm? Essa é a delicada pergunta que um dos livros da seleção de outubro do Clube Quindim vem nos fazer, além de trazer a temática da autoestima através de uma linguagem que as crianças entendam e possam refletir sobre o assunto.

Em Andreia baleia, escrito por Davide Cali e ilustrado por Sonja Bougaeva, uma garotinha sente muita angústia em sua aula de natação. Os colegas passam a fazer comentários negativos sobre o seu corpo, e ela deixa de querer entrar na piscina. No entanto, Andreia encontra, no acolhimento do professor, estratégias para se fortalecer e enxergar a beleza e as potencialidades do seu corpo. Algo essencial para a formação das crianças e da constituição de todos os indivíduos, não é mesmo?

Imagem do livro Andreia baleia, de Davide Cali e Sonja Bougaeva.
Imagem do livro Andreia baleia, de Davide Cali e Sonja Bougaeva, enviado pelo Clube Quindim aos seus assinantes.

A importância da autoestima

Hoje, fala-se muito sobre a importância de ter uma autoestima saudável e de criar filhos e filhas capazes de confiarem em quem são e de amarem sua aparência. A ideia pode parecer superficial, mas a autoestima se relaciona a aspectos profundos da nossa personalidade. Ela é fundamental para que possamos desempenhar certas atividades e encarar certos desafios. De acordo com Deborah Plummer, terapeuta que desenvolveu vários trabalhos sobre o assunto, uma autoestima saudável funciona como base para o bem-estar emocional, físico e social. Ela é, basicamente, o julgamento que fazemos da consciência que temos de nossa própria identidade.

Alguns estudos atestam que a autoestima se estabelece já nos primeiros anos de vida. Uma pesquisa realizada na Universidade de Washington com 200 crianças de 5 anos constatou que a autoestima construída entre elas era tão forte quanto a de um adulto. Por meio de uma medição técnica empregada na pesquisa, as crianças demonstravam sentidos positivos e negativos com relação a si mesmas. Os pesquisadores apontam, ainda, que a autoestima desempenha um papel fundamental na formação das identidades sociais das crianças. E mais: transmite a sensação de que a criança é capaz, de que pode confiar em si. Isso influencia no desenvolvimento de sua autonomia e na construção de sua vida.

No entanto, a construção da autoestima é um processo, em que são determinantes a relação com a família, o que se ouve dentro de casa, na escola e entre os círculos sociais. O que se consome na mídia também tem um peso determinante. Pode ser negativo, por exemplo, que meninas pequenas vejam na publicidade apenas mulheres e meninas magras, loiras e altas. Isso sugere a elas que esse é um padrão ideal de beleza. O que é diferente disso se torna menos aceito.

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Padrão de beleza

No livro O mito da beleza. Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres, a autora Naomi Wolf aponta que a beleza foi construída como uma qualidade essencial, que estimula a competição feminina e faz com que os homens disputem pelas consideradas “mais belas”. Ela também defende que o padrão de beleza é uma das ferramentas do patriarcado. Serviria tanto economicamente, ao mercado que lucra com produtos que elas compram para se sentirem mais bonitas, quando politicamente, porque controla as relações entre as mulheres e sua posição no mercado de trabalho.

De forma mais prática, uma série de dados indicam que meninas e mulheres se sentem pressionadas pelos padrões de beleza determinados em nossa sociedade. O Relatório Global de Autoconfiança Feminina Dove de 2016 entrevistou 10.500 meninas e mulheres de 13 países, e entre elas 60% afirmaram acreditar que precisam atender a certos padrões de beleza.

Além disso, 71% disseram que se sentem pressionadas a nunca cometer erros ou a demonstrar fraquezas. No Brasil, 60% das meninas falaram que abrem mão de praticar atividades importantes da vida, como aproveitar a companhia de amigos ou fazer um esporte, quando se sentem insatisfeitas com a própria aparência – como a Andreia da história, lembra?

Construção da autoestima com as crianças

Esses são indícios mais que concretos de que construir a autoestima pode ser um exercício árduo. Um exercício que exige atuação das famílias, dos educadores e uma mudança de postura por parte da mídia. Esta precisa deixar de reproduzir discursos opressores e ampliar a representatividade de meninas e mulheres de todos os tipos, formas e tamanhos.

Nesse sentido, histórias como Andreia baleia são ferramentas poderosas e inspiradoras: mostram personagens que fogem de um padrão e oferecem estratégias para que crianças, jovens e adultas possam pouco a pouco aprender a amar e aceitar seu corpo, independentemente do que diz o mundo externo.

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